As vendas de veículos leves eletrificados em 2023 cresceram 91% sobre 2022, segundo número divulgado nesta quarta-feira pela Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE). Foram 93.927 emplacamentos ante 49.245 em 2022.

Só em dezembro, as vendas chegaram a 16.279, quase o triplo das 5.587 de dezembro de 2022, um crescimento de 191%. Na avaliação da ABVE, os números de 2023 consolidam uma virada do mercado de eletrificados no Brasil.

Projeção feita pela Bright Consulting mostra que até 2030, os veículos eletrificados (híbridos e plug in) representarão 10% da frota brasileira, mesmo com a volta do Imposto de Importação sobre elétricos (que subirá gradativamente a partir de janeiro, quando começa em 12%, chegando a 35% em julho de 2026). Atualmente, esses veículos representam cerca de 0,5% da frota nacional.

O presidente da ABVE, Ricardo Bastos, avalia que o aumento do Imposto de Importação de veículos elétricos e híbridos, a partir de janeiro deste ano, provocou uma antecipação das vendas no último bimestre.

— Os números indicam principalmente uma sensível evolução desse mercado neste ano, com os veículos plug-in chegando a dois terços das vendas em dezembro — afirmou.

Avanço dos ‘plug-in’
Os veículos plug-in (que têm recarga externa das baterias) representaram 56% das vendas de eletrificados leves no ano, com 52.359 unidades, ultrapassando os híbridos convencionais HEV a gasolina e HEV flex (41.568), que até 2022 ainda dominavam esse segmento. Os veículos HEV combinam um motor a combustão a uma ou mais unidades elétricas.

Em dezembro, os plug-in atingiram 70% das vendas totais de eletrificados (11.371, de um total de 16.279), puxados pelas vendas das chinesas BYD e GWM, que lançaram novos modelos com essas tecnologias. Essas duas empresas se preparam para produzir veículos eletriciados no Brasil.

Com o lançamento, em dezembro, do Mover – Mobilidade Verde e Inovação, novo programa do governo federal para o setor automotivo, as montadoras terão mais clareza para organizar seus planos de investimento, tanto para veículos leves quanto para veículos pesados, como ônibus e caminhões, e também para infraestrutura de recarga elétrica, avalia Bastos.

A tendência de crescimento das vendas de eletrificados deverá se manter, mesmo com o aumento da carga tributária sobre os veículos elétricos e híbridos importados.

As marcas chinesas estão acelerando a eletrificação da frota no Brasil. Com uma estratégia que mescla preços mais atraentes — a partir de R$ 150 mil — e veículos com maior autonomia, além de muita tecnologia embarcada, os carros chineses já representam 35% do total de elétricos importados no país.

— Eram 0,4% (dos importados) em 2021 e 8% no ano passado. Este ano, o percentual de importados da China deve chegar a 35%, o que significa que um terço dos carros eletrificados do país é comprado dos chineses. Com o início da produção nacional da BYD e da GWM, o impacto será ainda maior — diz Murilo Briganti, sócio da consultoria Bright Consulting, especializada no setor automotivo, citando que as marcas chinesas já dominam o mercado.

O modelo mais vendido no ano passado foi o Toyota CCCross XRX Hybrid com 10.283 unidades, seguido pelo BYD Song Plus, com 7,9 mil unidades. A entidade ressalta que a Toyota já produz aqui e tem fatia relevante das vendas. O BYD Dolphin, a partir de R$149 mil, vendeu 5,9 mil unidades e ficou em quarto lugar.

Infraestrutura é barreira

Para Cristiano Doria, sócio da consultoria Roland Berger e especialista no setor automotivo, com a volta do imposto de importação dos eletrificados a produção local desses veículos tende a crescer, mesmo que seja com o CKD. Só no chamado ‘momento 2’ da fabricação é que se estimula a cadeia de fornecedores — e para isso é preciso volume de vendas.

Essa escala, diz o especialista, ajudará na queda de preços. Para ele, o preço dos importados deverá ter aumento de preço de 10% a 12% com a volta do imposto. Doria observa que o governo chinês ajuda com subsídios as vendas de veículos eletrificados pelo mundo, já que sem esse benefício não poderiam ter preços tão competitivos por aqui.

— Acho que o caminho deve ser o incentivo à produção local e não a restriçãoo aos importados. Poderiam vir medidas pontuais, de mais longo prazo, como redução tributária para a cadeia de fornecedofres, qualificação de mão de obra local, por exemplo — afirma Doria.

Para ele, a principal barreira para o mercado de veículos eletrificados no Brasil ainda continua sendo a infraestrutura de carregamento. Enquanto na China há quase 1,8 milhão de unidades de carregamento públicas, no Brasil são 3 mil, lembra o especialista. Ele avalia que ainda não é o momento de uma eletrificação toal no Brasil, que tem o etanol. Do ponto de vista das emissões de poluentes e carbono, o etanol resolve uma boa parte desse problema, afirma Doria.

Autor/Veículo: O Globo

Published On: 4 de janeiro de 2024

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