Em mais um capítulo do embate comercial que trava com o mundo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) o aumento imediato das tarifas sobre a China para 125%. Em paralelo, ele pausou as tarifas recíprocas —sobretaxas com índices mais elevados— sobre todos os outros países por 90 dias e aplicará no lugar a tarifa global de 10%, na qual o Brasil está inserido.
Canadá e México serão os únicos isentos da taxação linear porque os países foram alvo de alíquotas de 25% sobre boa parte dos seus bens, anunciadas em fevereiro por Trump, que seguem valendo. Os impostos de 25% para importação aos EUA de aço e alumínio também permanecem em vigor.
As mudanças no “tarifaço” foram anunciadas pelo presidente na sua plataforma Truth Social e depois comentadas pelo republicano e seus aliados ao longo do dia. Os mercados, que operam em alta volatilidade na última semana, já reagiram aos novos anúncios. No Brasil, o dólar reverteu os ganhos passou a apresentar forte queda.
Após o anúncio, os índices de Wall Street reagiram imediatamente: o S&P 500, referência das ações americanas, fechou em alta de 9%, enquanto o Nasdaq Composite saltou 12%. Foi o melhor dia do S&P 500 desde 2008 e o maior ganho do Nasdaq desde 2001.
O forte rali adicionou cerca de US$ 4,3 trilhões ao valor de mercado do S&P 500, segundo cálculos do Financial Times com base em dados da FactSet.
Os ganhos compensaram parte das perdas acumuladas desde que Trump anunciou um pacote abrangente de tarifas há uma semana, o que causou turbulência nos mercados globais, que nos últimos dias registraram perdas de trilhões de dólares em ações. Houve, ainda, um forte movimento de venda de títulos do Tesouro americano e queda acentuada nos preços do petróleo.
Empresas que haviam sofrido grandes perdas nos dias anteriores também tiveram fortes ganhos nesta quarta. Apple, Nvidia, Microsoft, Amazon, Meta e Tesla subiram ao menos 10% após o anúncio de Trump.
No Brasil, o fôlego injetado nos mercados também reverteu o clima na Bolsa, que estava nas mínimas de 122.887 pontos e passou a disparar com a notícia. Fechou em valorização de 3,11%, a 127.795 pontos.
Já o dólar despencou 2,52% nesta quarta-feira (9) e encerrou o dia cotado a R$ 5,844.
Por outro lado, o presidente manteve a pressão sobre a China, aumentando para 125% as tarifas sobre o país asiático, aprofundando o impasse comercial com a segunda maior economia do mundo.
Trump justificou a decisão de elevar para 125% as tarifas à China como resposta ao anúncio de Pequim de aplicar uma sobretaxa de 84% aos produtos americanos, na mesma proporção aplicada antes por Trump. A retaliação chinesa começa a valer nesta quinta (10).
Nesta quarta, a OMC (Organização Mundial do Comércio) estimou que as tensões comerciais entre Estados Unidos e China podem reduzir o comércio de mercadorias entre as duas economias em cerca de 80%. O cálculo, no entanto, foi divulgada em horário próximo ao anúncio das novas tarifas contra a China, no início da tarde, e não reflete os novos valores.
“Essa abordagem ‘olho por olho’ entre as duas maiores economias do mundo, que juntas respondem por cerca de 3% do comércio global, traz implicações mais amplas que podem prejudicar seriamente as perspectivas econômicas globais”, afirmou a OMC.
Dividir a economia global em dois blocos dessa forma poderia levar a uma redução de longo prazo no PIB real global de quase 7%, acrescentou a entidade.
A União Europeia também anunciou nesta quarta a pretensão de impor tarifas sobre cerca de € 21 bilhões (cerca de R$ 133 bilhões) em produtos dos EUA em sua primeira retaliação a Trump, com uma primeira leva de taxas a serem impostas a partir da próxima terça (15).
Apesar disso, o bloco europeu foi poupado por Trump e inclusive teve uma redução na sua tarifa retaliatória, que era de 20%, para a sobretaxa linear de 10%. Um integrante da Casa Branca disse que a razão para a isenção é que as tarifas retaliatórias da União Europeia não entraram em efeito.
Mais tarde, no Salão Oval, o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse que as sobretaxas demorariam mais do que as da China para vigorar. “Nossa expectativa é que será ainda mais tarde”, disse Bessent. Trump, então, respondeu dizendo estar contente que a União Europeia tenha recuado, embora o bloco ainda não tenha feito esse anúncio.
A decisão de Trump de pausar as tarifas mais altas e dar um alívio a todos os países menos a China ocorre dois dias depois de ele dizer que não estudava recuar na estratégia. Nesta quarta, o presidente reconheceu que considerava a hipótese com aliados e que tomou a decisão pela manhã.
“Nós escrevemos [o anúncio] do coração, não consultamos advogados nem nada. Foi dos nossos corações, como algo positivo para os países e nós”, disse sobre a pausa nas recíprocas.
Trump ainda disse esperar que não precisaria aplicar tarifas adicionais à China e repetiu que o país acreditar que o país asiático quer negociar. “Não consigo imaginar isso. Não acho que teremos que fazer mais,” afirmou o presidente.
Ele repetiu que mais de 75 países teriam buscado os EUA e está disposto a conversar, mudando de novo o tom dado pelo seu governo antes, de que as tarifas eram “inegociáveis”. “Eu acho que um acordo poderia ser feito com todos. Um acordo será feito com a China. Eu só quero acordos justos com todos”, afirmou.
Como as tarifas retaliatórias da UE ainda não entraram em vigor, a tarifa recíproca de 20% foi inclusa na suspensão, e o bloco será tarifado apenas na tarifa global de 10%.
Bessent afirmou que as conversas devem começar com Japão e Coreia do Sul, cujos negociadores estariam nos Estados Unidos, além de Vietnã e Índia. Afirmou ainda que as taxas são uma resposta a maus atores mundiais e que a China é tem “a economia mais desequilibrada” e “é um problema para o resto do mundo”.
Bessent disse que ainda que os EUA querem negociar de “boa-fé” com parceiros comerciais e que aqueles que não retaliaram contra as chamadas tarifas do dia da libertação de Trump seriam recompensados.
As chamadas tarifas recíprocas, agora suspensas, entraram em vigor nesta quarta-feira (9), afetando dezenas de países. É uma tentativa do republicano de forçar a retomada da industrialização americana, com a volta de fábricas e empregos ao país, uma estratégia criticada por especialistas.
As alíquotas foram anunciadas por Donald Trump na semana passada, em 2 de abril, data que ele batizou de “Dia da Libertação”, que consistiu num tarifaço a todas as nações. O pacote inclui um imposto extra de 10% a bens do Brasil —que entrou em vigor no sábado (5). As tarifas mais elevadas dos EUA foram aplicadas à União Europeia e a outros 56 países, incluindo a China.
O modo como as tarifas foram calculadas, com base no déficit comercial registrado pelos EUA com o país e o valor exportado por esse país para o mercado americano, foi criticado e gerou distorções. Lesoto, no sul da África, passaria a ser alvo de taxas de 50%, apesar de o país estar entre os mais pobres do mundo. O Camboja pagaria 49%, e a União Europeia, 20%.
ESCALADA DA GUERRA COMERCIAL COM A CHINA
A elevação das tarifas americanas sobre produtos chineses para 125% é o mais recente capítulo de uma guerra comercial que se intensificou na última semana. Os chineses foram afetados, inicialmente, com uma tarifa recíproca de 34% anunciada no dia 2 de abril. Somada a outras taxas vigentes, o anúncio elevou o total de tarifas para 54%.
Em retaliação, no dia 4 de abril, a China anunciou tarifa de 34% sobre produtos americanos, restrição a exportações de sete terras raras e sanções contra quase 30 empresas dos EUA. Nos dias 7 e 8 de abril, nesta semana, Trump ameaçou e cumpriu uma nova elevação e, nesta quarta (9), começou a valer uma tarifa adicional de 50% sobre a China. Assim, a tarifa total sobre produtos chineses ficou em 104%.
A resposta da China não demorou a chegar. Também nesta quarta, o Ministério das Finanças chinês impôs uma nova taxa de 84% sobre bens dos EUA em resposta à taxa de 104%. A nova elevação das tarifas dos EUA, para 125%, é uma resposta a esta última retaliação da China.
LEIA O TEXTO DE TRUMP NA ÍNTEGRA
“Com base na falta de respeito que a China tem demonstrado pelos mercados mundiais, estou, por meio deste, aumentando a tarifa cobrada da China pelos Estados Unidos da América para 125%, com efeito imediato. Em algum momento, espero que em um futuro próximo, a China perceberá que os dias de explorar os EUA e outros países não são mais sustentáveis nem aceitáveis.
Por outro lado, e considerando o fato de que mais de 75 países entraram em contato com representantes dos Estados Unidos — incluindo os Departamentos de Comércio, Tesouro e o USTR [Escritório do Representante de Comércio dos EUA] — para negociar uma solução sobre os temas em discussão relativos a comércio, barreiras comerciais, tarifas, manipulação cambial e tarifas não monetárias, e que esses países, seguindo minha firme recomendação, não retaliaram de nenhuma forma contra os Estados Unidos, autorizei uma pausa de 90 dias e uma tarifa recíproca substancialmente reduzida, de 10%, durante esse período, também com efeito imediato.
Obrigado pela atenção a este assunto!”