Após mais de dois anos de tratativas, a APM Terminals, empresa do grupo de navegação dinamarquês Maersk, concluiu o processo de compra da área de 50 hectares do porto de Suape (PE). O terreno vai receber o primeiro terminal de contêineres totalmente eletrificado da América Latina, com previsão de conclusão em julho de 2026, e a um investimento de R$ 1,6 bilhão.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o presidente da APM Terminals Suape, Aristides Russi, disse que a ambição é resgatar as escalas internacionais de Suape, aumentando em 27% as rotas de longo curso do porto. Hoje, diz o executivo, as cargas de rotas mais longas fazem transbordo em portos como o de Santos, antes de seguirem por cabotagem para Pernambuco.

“O transbordo em outro porto adiciona custos e tempo à cadeia, torna a operação menos atrativa. Com rotas ligando Suape diretamente aos países de origem ou destino das cargas, podemos reduzir o tempo de transporte da Ásia, por exemplo, em 25 dias, de 65 para 40 dias”, diz Russi.

Ele destaca a relevância dos clientes asiáticos, interessados nessa redução do tempo de frete. É o caso da indústria de polímeros. “As empresas hoje têm estoques reforçados, com 10% a mais de volume do que o necessário para gerenciar riscos relacionados ao tempo de trânsito das mercadorias. Nossa operação direta pode ser um atrativo para começar a mudar isso”, diz.

Autoridades portuárias já elencaram o porto de Suape como o mais caro do País, o que levou as linhas internacionais para outros portos, cenário que a APM Terminals planeja reverter já com a primeira fase do novo empreendimento.

A área foi adquirida em leilão de 2021 por R$ 455 milhões. A APM Terminals planeja investir ao todo R$ 1,6 bilhão para a construção da primeira fase do terminal, quando a unidade poderá receber até 400 mil contêineres de 20 pés por ano, incrementando em 55% a capacidade total do complexo portuário. Para depois de 2026, uma segunda fase prevê ampliação de mais 300 mil TEUs/ano, o que elevaria a capacidade total a 700 mil TEUs/ano.

No curtíssimo prazo, até o fim de abril, a APM Terminals planeja selecionar via leilão as empresas responsáveis pela demolição das instalações de estruturas do antigo Estaleiro Atlântico Sul (EAS), além da construção do cais e do pátio de armazenamento em si.

Além da estrutura física, o terminal vai contar com equipamentos e frota de apoio operacional elétrica, em substituição ao diesel. A princípio, serão 16 caminhões elétricos capazes de levar até 65 toneladas, oito guindastes móveis (RTG) sobre pneus e de controle remoto e dois guindastes fixos (STS), que retiram e colocam as cargas nos navios, todos elétricos. Cada STS vai custar cerca de US$ 12 milhões (R$ 58,7 milhões no câmbio atual). Ao todo, diz Russi, serão quase R$ 500 milhões em equipamentos.

A energia que vai alimentar o complexo será comprada no mercado livre, junto à Neoenergia Pernambuco, por meio de contratos de 24 meses. O maior consumo de energia, projeta o executivo, vai estar ligado aos guindastes e aos contêineres frigorificados, que devem perfazer menos de 10% do total das unidades do pátio.

Fecha o pacote de facilidades uma rede 5G própria para acompanhamento das cargas em tempo integral, além de gestão de resíduos, tratamento de águas e modelagem de fluxo de águas subterrâneas para controle de poluição.

“Hoje, a fruta produzida no vale do São Francisco é escoada para a Europa e Estados Unidos pelo Ceará e pela Bahia, por conta das dificuldades logísticas que Pernambuco enfrenta. Queremos fazer isso por Suape”, diz.

Para Russi, a trajetória de portos como os de Santos e de Santa Catarina deixaram patente para o setor que o investimento deve antecipar a demanda a fim de capturá-la. “Nosso objetivo é reforçar Suape como alternativa e resgatar seu histórico de linhas de navegação de longo curso”, diz.

Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo

Published On: 11 de janeiro de 2024

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