12/05/2022
Foi claro o ultimato dado pelo presidente Jair Bolsonaro ao então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, na “live” transmitida pelo chefe do Executivo na quinta-feira passada.
“Ministro Bento Albuquerque e senhor José Mauro [Ferreira Coelho], presidente da Petrobras, diretores da Petrobras, vocês não podem aumentar o preço do diesel. Não estou apelando. Estou fazendo uma constatação, levando-se em conta o lucro abusivo que vocês têm. Vocês não podem quebrar o Brasil. É uma pena agora. Petrobras, não quebre o Brasil”, afirmou o presidente. Irritado, completou: “Eu não posso intervir. Vocês têm lucro, têm gordura e tem o papel social da Petrobras definido na Constituição. Estamos em guerra. Petrobras, não aumente o preço do diesel”.
O aumento veio e, imediatamente, gerou revolta entre caminhoneiros – eleitorado simpático a Bolsonaro. O Palácio do Planalto sabia que isso poderia ocorrer e a impressão, inclusive, foi que Bolsonaro sabia do aumento iminente.
Ele disse que não poderia intervir, mas era tudo o que gostaria de fazer. O preço dos combustíveis está no centro das preocupações do governo, que busca formas de desacelerar a inflação a poucos meses das eleições. No Executivo, contudo, a discussão era como fazer isso sem provocar turbulências no mercado.
A fórmula encontrada foi positiva para o ministro da Economia, Paulo Guedes, que agora tem um interlocutor próximo em uma pasta estratégica. Aliados do governo no Congresso, que sempre cobiçaram o Ministério de Minas e Energia, novamente não conseguiram colocar as mãos no que antes foi área de influência de uma ala do MDB.
Existe ainda um outro aspecto a ser notado: a despeito do destaque da ala militar neste momento em que Bolsonaro volta a atacar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de novo um integrante do governo oriundo das Forças Armadas, desta vez da Marinha, deixa o cargo de forma pouco prestigiosa.
Bolsonaro deu uma resposta política para um problema que persistirá. Entregou uma cabeça para desviar de si as críticas sobre a alta dos preços dos combustíveis, mas não conseguirá alterar a política de preços da Petrobras.
Seu trunfo será dizer que manteve o perfil técnico do ministério e pelo menos não o entregou para partidos políticos. Ou utilizar a pasta de Minas e Energia para ressuscitar algumas bandeiras liberais, como a privatização, que foram deixadas pelo caminho nos últimos anos.