Enquanto as nações desenvolvidas pedem uma mudança imediata (e irrealista) para um futuro com 100% de energia renovável, os governos de países em desenvolvimento continuam a trabalhar para resolver a pobreza energética histórica em diversos continentes. No caso da África, com mais de 600 milhões de pessoas sem eletricidade e outros 900 milhões sem acesso à energia limpa para cozinhar, o abandono dos combustíveis fósseis e de sua infraestrutura causaria impactos prejudiciais a toda a sociedade, revertendo qualquer progresso significativo em suas economias.

As nações desenvolvidas da Europa, apesar de pressionarem os países em desenvolvimento a abandonar os recursos fósseis, também recorrem ao carvão e gás natural para alimentar suas economias. A Alemanha, por exemplo —que representa o oitavo maior produtor de carvão e quarto maior consumidor global— aumentou suas importações de carvão em 12% no ano passado, diante do conflito russo-ucraniano. No mesmo ano, o Reino Unido aprovou a primeira nova mina de carvão em quase 30 anos.

No entanto, esses mesmos países afirmam que o carvão não tem futuro na África e nos países em desenvolvimento. No ultimo encontro do G7 no Japão —país altamente dependente de importação de energia e com uma política de usar todas as fontes para garantir a segurança energética— foi discutido o uso das energias variáveis (solar e eólica). A Agência Internacional de Energia apresentou um relatório e concluiu que é necessário a manutenção de 5% a 15% de energia firme, despachável, para manter a estabilidade do fornecimento de eletricidade.

Mais recentemente, o Parlamento da Suécia abandonou alguns objetivos que visam uma dependência de 100% das energias renováveis até 2040. Isso permitirá aos suecos usarem gás natural até 2045, quando a matriz nuclear será incluída como parte de uma estratégia de geração de energia de longo prazo. A diversificação das fontes continua sendo a melhor forma de se alcançar a segurança energética. Os países desenvolvidos, que eliminaram gradualmente o carvão como parte de sua matriz, continuam a lutar por uma segurança energética que alegavam ter alcançado após o abandono dos combustíveis fósseis.

O chamado “trilema da energia” (segurança, meio ambiente, custo) é um dos princípios básicos de toda a discussão. Não existe solução única para a matriz energética. Cada país deve ter seu caminho, e o discurso eurocêntrico não pode ser adotado pelo Brasil. Como afirma o presidente Lula, outros países não podem ditar regras nessa área, porque já somos exemplo de matriz limpa.

Os interesses comerciais e geopolíticos devem ficar claros para a nossa sociedade. Precisamos garantir sistemas de energia confiáveis, acessíveis, seguros e descarbonizados. Ao adotar uma abordagem equilibrada, que combina fontes térmicas de baixo carbono (carvão e gás com captura de CO2, energia nuclear) com fontes renováveis, pode-se garantir um fornecimento de energia confiável, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e alcançar metas de sustentabilidade de longo prazo. O discurso é de inclusão, não de exclusão.

(Fernando Luiz Zancan, Presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral)

Autor/Veículo: Folha de São Paulo

Published On: 25 de setembro de 2023

Últimas Noticias

Compartilhe este conteúdo!