07/04/2022
Fonte: Valor Econômico
Depois dos reveses sofridos nos últimos dias, o governo conseguiu indicar, ontem, o químico José Mauro Ferreira Coelho para a presidência da Petrobras e Márcio Andrade Weber para comandar o conselho de administração da companhia. As duas vagas estavam em aberto depois das desistências de Adriano Pires e de Rodolfo Landim, nesta semana, para os respectivos cargos. As novas indicações foram consideradas, por fontes próximas da Petrobras, como uma vitória do ministro Bento Albuquerque, das Minas e Energia, ao qual a companhia está subordinada. “Bento emplacou”, disse um interlocutor.
Se Coelho chega respaldado pelo histórico técnico na área de energia – ele é o atual presidente do conselho de administração da estatal PPSA -, Márcio Weber, o novo candidato a “chairman” da Petrobras, foi “solução interna” uma vez que é integrante do atual conselho da petroleira. Tem experiência em petróleo e priva do respeito de integrantes do colegiado.
Coelho tem formação militar, foi oficial do Exército entre 1983 e 1991, e pesquisador do Instituto Militar de Engenharia. Também ocupou a diretoria da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e foi secretário de petróleo e gás do MME antes de chegar ao conselho da PPSA. Ele já defendeu a prática de paridade aos preços internacionais, política que a Petrobras segue desde o governo Temer e que tem sido motivo frequente de desgaste da empresa com o presidente Jair Bolsonaro. Os dois últimos presidentes: Roberto Castello Branco e Joaquim Silva e Luna foram demitidos por reajustar os preços dos combustíveis no mercado doméstico seguindo as variações do petróleo no mercado internacional. Silva e Luna permanece na presidência da empresa até a semana que vem.
Depois do desgaste provocado pela indicação de Adriano Pires, o anúncio de Coelho foi visto como nova demonstração de força do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Coelho era tido como braço direito de Bento no ministério e, com essa nomeação, o ministro terá dois nomes de sua confiança em estatais estratégicas do setor: Itaipu e Petrobras. Nos últimos dias tinha circulado como candidato o nome de Caio Mario Paes de Andrade, ligado ao ministro da Economia, Paulo Guedes.
As indicações de Coelho e Weber abriram o caminho para que os acionistas da Petrobras elejam o novo conselho de administração da companhia na Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária (AGOE) marcada quarta-feira. Desde o recuo de Pires e Landim, a chapa da União para a assembleia havia ficado desfalcada. Dos oito nomes originais indicados pela União, sobraram seis. Ontem à noite, o MME informou que “consolidou” a lista da União, a controladora da empresa, para o conselho. A chapa passa a ser composta por Márcio Weber, José Mauro Ferreira Coelho, Sônia Villalobos, Ruy Schneider, Luiz Henrique Caroli, Murilo Marroquim, Carlos Eduardo Lessa Brandão e Eduardo Karrer. Há ainda sete candidatos de minoritários ao conselho.
No total, há 15 candidatos para dez vagas. Os postulantes da União devem enfrentar dois minoritários em eleição pelo sistema de voto múltiplo em que ganham os mais votados individualmente. Os demais candidatos dos minoritários vão se enfrentar entre si em duas eleições em que a União não vota. Uma na eleição em separado do controlador pelas ações ordinárias (três nomes para uma vaga) e outra nas preferenciais (dois candidatos para uma cadeira). O colegiado da Petrobras tem onze membros, mas o 11º está eleito pelos empregados. É Rosangela Buzanelli Torres, que também já está no conselho. O mandato é de dois anos, até a AGO de 2024, mas com as eleições presidenciais pela frente há chances de o conselho ser trocado novamente no ano que vem.
Não está claro ainda se haverá tempo hábil até a assembleia da semana que vem para que o nome de Coelho seja avaliado pelas instâncias de governança corporativa da Petrobras, responsáveis pela análise de adequação dos nomes às regras da empresa e da Lei das Estatais. O comitê de elegibilidade (Celeg), vinculado ao comitê de pessoas (COPE), pode fazer essa análise a tempo da AGOE. “Acredito que vão tentar fazê-lo”, disse uma fonte. Se não for possível, esse checagem pode ficar para depois da AGOE. O nome de Weber foi checado uma vez que ele estava na primeira lista e é candidato à reeleição.
Ontem o Celeg concluiu que Weber preenche os requisitos necessários e não tem vedações para concorrer ao conselho. O comitê disse, porém, que Weber precisará “adotar as providências necessárias para que a empresa em que possui participação se abstenha formalmente de prestar serviços à Petrobras e suas participações societárias, além de fornecedores e concorrentes relevantes do setor de óleo e gás”. No currículo de Weber no site da Petrobras, consta que ele presta assessoria ao grupo PMI, que opera quatro plataformas de perfuração para águas profundas e que têm, entre os clientes, a Shell e a ENI.
Especialistas receberam bem o nome de Coelho. Edmar Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio, disse que Coelho é oriundo do setor de energia e já passou por cargos em que teve interlocução com a Petrobras. “É uma solução para não trazer risco para o governo. Como ele é conhecido no setor, não deve ter sido um problema para conseguir cumprir os ritos de compliance”, opinou.