12/05/2022

Fonte: Valor Econômico 

A desaceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em abril, que contou com a ajuda da deflação em energia, em nada animou os economistas. O indicador veio um pouco acima das expectativas, o avanço de preços foi mais disseminado, métricas menos voláteis acompanhadas pelos analistas e pelo Banco Central seguem pressionadas e não há sinais de alívio em bens industriais e serviços.

O IPCA subiu 1,06% em abril, após alta de 1,62% em março. Ainda assim, foi o maior resultado para o mês desde 1996 (1,26%) e acima da mediana indicada pelo Valor Data, de 1%. No acumulado em 12 meses, os números também impressionam. Até abril, o índice sobe 12,13%, vindo de 11,3% em março. É a maior taxa, por essa medida, desde outubro de 2003 (13,98%).

“Por mais que represente desaceleração ante março, veio acima do consenso e 1,06% ao mês é muito preocupante. Caminhamos para 14 meses de aperto monetário e os sinais de melhora não aparecem”, diz Dalton Gardimam, economista-chefe do Bradesco BBI.

Analistas destacam que a composição do IPCA em abril ficou parecida com a dos últimos meses, “ou seja, muito ruim”, resume Anna Reis, sócia e economista da GAP Asset Management. “Não tem grandes novidades, e esse é o problema. É a mesma história do IPCA-15: uma inflação generalizada”, diz Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV.

Entre os grupos de despesas, o maior impacto (0,43 ponto percentual) foi de alimentação e bebidas, que subiu 2,06%. O índice de difusão de alimentícios – que mede a proporção de itens do tipo com avanço nos preços – passou de 74,4% em março para 79,17% em abril. Commodities em alta, questões climáticas e entressafra estão entre as razões citadas pelo analista do IBGE André Filipe Almeida para explicar o aumento de preços de alimentos.

Logo na sequência, a maior influência altista para o IPCA veio do grupo transportes, que subiu 1,91%, ante 3,02% em março, e agregou 0,42 ponto ao índice. A categoria é pressionada pelos preços dos combustíveis, que subiram 3,2% em abril. Só a gasolina avançou 2,48% e deu a maior contribuição individual (0,17 ponto).

O aumento no querosene de avião, por sua vez, pode ter contribuído para o movimento nas passagens aéreas, que passaram de deflação de 7,33% em março para alta de 9,48% em abril e têm peso sobre a inflação de serviços, aponta Almeida. E o maior custo com combustíveis e frete, diz ele, também pode ajudar a explicar a difusão geral do IPCA, que segue recorde – chegou a 78,2% no mês passado, segundo o Valor Data.

“Acho que o principal ponto são os núcleos muito ruins”, diz Andrei Spacov, sócio e economista-chefe da Exploritas, em referência a métricas que tentam suavizar o efeito de itens voláteis (leia mais abaixo). O mais “feio” para ele, no entanto, é a medida de serviços subjacentes, mais atrelados à atividade. “Estão com clara tendência de alta”, diz.

Apenas um dos nove grupos teve deflação em abril: habitação (-1,14%), puxado pela queda nos preços de energia elétrica residencial (-6,27%). Desde 16 de abril, vigora a bandeira tarifária verde, sem cobrança extra na conta de luz. “O que ajudou a frear o IPCA no mês foi, de fato, a queda da energia”, diz Almeida. Não fosse esse alívio, o IPCA de abril teria se aproximado de 1,4%, estima Roberto Secemski, economista-chefe para Brasil do Barclays.

A energia contribui para a desaceleração nos preços monitorados de 2,65% em março para 0,55% em abril. No sentido contrário, com o reajuste anual de medicamentos, os produtos farmacêuticos tiveram alta de 6,13%. Em 12 meses, os preços monitorados ficaram praticamente estáveis ao redor de 15%, enquanto os livres aceleraram para 11,1%, segundo a MCM Consultores. “Os preços livres apresentaram inflação constante em relação ao mês anterior (1,24%). Dada a magnitude da inflação mensal e o período, que sazonalmente costuma ser positivo para a inflação de bens livres, a inexistência de surpresa inflacionária é uma má notícia”, diz relatório da CM Capital.

A queda dos preços de energia no IPCA cheio de maio e nova acomodação de combustíveis e alimentação podem garantir um índice mensal abaixo de 0,50% pela primeira vez em mais de um ano, projeta a Terra Investimentos. Gardimam, do Bradesco BBI, diz que pode haver um alívio pontual, “caso não haja nenhuma outra surpresa com a gasolina, que está na boca do gol para ser aumentada”, observa. “Só que nada, absolutamente nada, panoramicamente, sugere que essa melhora pontual será correspondida por um ritmo. Não diz que a gente vai ter alívio no curto prazo”, afirma.

Na esteira do resultado de abril, algumas casas revisaram para cima suas projeções de IPCA em 2022, como o Banco Original (9%), a MB Associado s (8,7%), o Barclays e a MCM, ambos com 8,4%. “Achamos que vai fechar o ano em 8%, mas estamos preocupados, tem viés de ser algo entre 8% e 9%”, diz Padovani, do BV.

Published On: 12 de maio de 2022

Últimas Noticias

Compartilhe este conteúdo!