08/11/2022

Fonte: O Estado de S. Paulo

O Brasil foi escolhido como tema de estudo do Fórum Econômico Mundial sobre os desafios para financiar a transição para a economia de carbono zero, conta com exclusividade ao Estadão/Broadcast Kai Keller, que lidera essa iniciativa no Fórum.

Devido à relevância econômica e de biodiversidade do País, a ideia é que o Brasil sirva como “caso de estudo” sobre a agenda de transição em mercados emergentes e os ajustes que esse grupo precisa fazer para adaptar à realidade local os acordos globais – como os que são discutidos na conferência do clima, a COP-27, que começa neste domingo.

Os achados iniciais do trabalho, que é feito em parceria com a Oliver Wyman, serão apresentados em Davos, em janeiro, onde pode acontecer o primeiro contato do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com as principais lideranças do mercado financeiro internacional. No pontapé inicial do estudo, em outubro, a primeira mensagem dada pelos líderes do setor privado é a necessidade de uma “narrativa consistente” para enfrentar o desafio climático no País. O relatório final ainda não tem data para a publicação.

O Brasil é o segundo país escolhido por Davos para uma análise mais detalhada sobre os desafios de financiamento da descarbonização. O trabalho foi iniciado com uma avaliação global e, no ano passado, o Fórum colocou uma lupa sobre a China, que há 16 anos é o maior emissor de gás carbônico do mundo, respondendo por cerca de 30% das emissões globais em 2020. Lá, o Fórum concluiu que serão necessários US$ 170 bilhões para atingir os objetivos de neutralidade de carbono, o que só será possível com mecanismos de financiamento “verde” mais sofisticados e a ajuda do governo.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Keller explica que o tema de como financiar a transição para economia de baixo carbono tem sido um grande foco do Fórum, mas que a questão é diferente a depender do setor e da região. Ele cita que a transição na siderurgia ou na indústria de construção, por exemplo, é complexa e vai precisar da ajuda de tecnologias inovadoras, por isso, arriscadas e caras, o que vai exigir o desenvolvimento de novos modelos de financiamento.

Diante desse desafio, a instituição, com a iniciativa, pretende facilitar o diálogo de líderes empresariais e de instituições financeiras. “Os empréstimos tradicionais podem ser considerados, mas normalmente não têm a duração exigida para um projeto que é muito arriscado. O venture capital não tem o tamanho necessário para financiar todas essas novas tecnologias. Project finance também não é adequado.”

Após a análise global, a China foi escolhida, segundo Keller, porque tem um ambiente financeiro muito diferente do europeu ou norte-americano. A intenção foi entender se as mesmas soluções desenhadas para o mundo desenvolvido tradicional funcionariam para o gigante asiático e o que precisaria ser ajustado.

Lentes emergentes

Agora, escolheram o Brasil porque acreditam que pode ser um exemplo representativo dos desafios e oportunidades que os mercados emergentes vão enfrentar nessa agenda de transição. “É necessário considerar mais fatores. A realidade econômica atual difícil tem que ser equilibrada de alguma maneira com a agenda de sustentabilidade.”

É olhar pelas “lentes” desse grupo que precisa considerar outros pontos, como alto desemprego e inflação, para poder alinhar as soluções locais com as iniciativas globais contra a crise climática, algo crucial para o sucesso dessa batalha.

A opção pelo Brasil como representante do grupo deve-se, segundo Keller, ao tamanho da economia e à presença de indústrias bem desenvolvidas, mas também graças à grande biodiversidade e pegada ecológica, que é o jargão da área de sustentabilidade usado para medir quantos recursos naturais uma sociedade ou atividade necessita para absorver os resíduos que gera.

Published On: 8 de novembro de 2022

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