09/05/2022
O mercado previa lucro de R$ 40 bilhões para a Petrobras no primeiro trimestre de 2022, e a estatal divulgou, quinta-feira, resultado de R$ 44,56 bilhões. Entre a expectativa e a confirmação, o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar a política de preços e o lucro “excessivo” da petroleira. Tudo aconteceu na live semanal do presidente, pouco antes do anúncio formal da companhia. Mais uma vez, o principal representante da União, controladora da companhia, coloca a governança em xeque e dissemina incertezas quanto à condução da política de preços.
Na transmissão, Bolsonaro afirmou, sem citar fontes, que a Petrobras teve “um lucro de R$ 40 bilhões”. O montante era esperado pelo mercado, conforme projeções de bancos consultados pelo Valor. Momentos depois da fala, a companhia anunciou lucro líquido de R$ 44,56 bilhões no primeiro trimestre, alta de 3.718%. Na live, o presidente classificou o lucro da empresa com “um crime inadmissível”, em momento em que a alta dos combustíveis pressiona a inflação em pleno ano eleitoral. As declarações de Bolsonaro envolvendo a companhia são frequentes. E volta e meia reacendem a discussão sobre os deveres do controlador de uma empresa de economia mista de capital aberto, como é o caso da petroleira.
Especialistas ouvidos pelo Valor entendem que os comentários têm cunho político. O discurso é uma forma de o presidente prestar contas para os potenciais eleitores. A fala dele, na quinta, ocorreu quando o pregão da B3 tinha se encerrado. Entre quinta e sexta, não houve pedido da CVM para que a companhia desse esclarecimentos sobre as declarações, o que aconteceu em outros episódios. O regulador tem procedimentos sobre o tema em análise desde o ano passado.
Do ponto de vista de governança, esse tipo de manifestação é negativa para a companhia, dizem especialistas. “As declarações geram insegurança para investidores. E colocam dúvidas sobre se a política de preços será mantida. Isso é inerente a Bolsonaro, a representantes do Congresso e também a outros governos”, disse um advogado. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também questiona a política da Petrobras. Bolsonaro repete que não tem objetivo de intervir na companhia, mas na prática o faz ao reclamar de preços, pressionar presidentes e demiti-los. Por enquanto, lembra um advogado, a política de preços está sendo mantida e a empresa tem dado resultados. Boa parte deles é revertida para o próprio governo.