O segundo dia do XVII Encontro de Revendedores de Combustíveis do Nordeste foi bastante movimentado, com feira de exposições e conteúdo de qualidade, incluindo diversas palestras direcionadas ao negócio da revenda.
O primeiro painel do dia trouxe a experiência do fundador do ClubPetro, Ricardo Pires, que também é vice-presidente do Minaspetro, sindicato que representa a revenda de Minas Gerais.
Pires faz parte da terceira geração do Grupo Família Pires, tradicional revenda em Minas Gerais, e iniciou o projeto-piloto do Clubpetro em 2010, programa de fidelidade que se tornou conhecido em todo o país.
“O lema que sempre motivou o nosso grupo foi como transformar um posto de passagem em um posto de destino. Esse foi o nosso desafio”, contou.
Outro lema adotado por ele foi: “Preocupe-se com o cliente, não com o concorrente”. Com análise e estratégia, observação de quem era o cliente que frequentava o posto, Pires conseguiu criar um relacionamento e fidelizar o nosso cliente.
“O fluxo da loja de conveniência é de 1.144 vendas e 1.100 veículos por dia, quando conectamos o posto e loja de conveniência aumentou o fluxo”, disse.
Para chegar ao programa de fidelidade, Pires destaca que antes de tudo é necessário fazer o básico bem-feito, com relação a manutenção de banheiros limpos, um posto bonito e bem iluminado, funcionários bem treinados, que transmita confiança ao cliente.
Sucessão familiar
O negócio familiar também envolve um tema delicado, bastante difícil de lidar, com a finitude da vida. A dor de lidar com a morte do patriarca ou matriarca da família, à frente da gestão do posto, também pode se transformar numa tormenta que vai além da dor emocional do luto, com brigas e perdas financeiras que envolvem a sucessão familiar.
Os advogados Dayane Araújo e Ruy Amaral abordaram os diversos aspectos desse tema sob o ponto de vista jurídico e alertaram o revendedor sobre a importância de se precaver para planejar a sucessão, com relação aos instrumentos, como testamento, doação, holding, entre outros, para evitar dor de cabeça aos herdeiros.
“Meu convite é que se gaste tempo e energia, converse com as suas famílias sobre sucessão para que vocês consigam fazer um planejamento com sucesso”, aconselhou Amaral.
O melhor sócio do Brasil
O empresário Ibsen Pinto, proprietário do Grupo J.Pinto, apresentou a palestra “O melhor sócio do Brasil”, um tipo de negócio criado por ele para conectar com pessoas complementares para melhoria, crescimento e implementar novos negócios.
Ele destacou quatro pilares da sociedade, que baseiam a sua metodologia. O primeiro é escolher um padrinho ou uma madrinha, que seria uma pessoa que se tenha respeito, admiração e confiança, que vai ser a pessoa responsável para as crises emocionais. É alguém muito especial que deve conduzir as nossas relações societárias nos momentos de conflitos”, explicou. A segunda é a evolução patrimonial, que seria similar ao balanço patrimonial, mas é um balanço diária. A terceira é uma ferramenta de gestão chamada Avaliação Gerencial Mensal (AGM), de preferência de duas horas por mês para revisão do acordo societário e discutir as dificuldades e oportunidades do negócio. E o último é o Acordo Societário, que é um contrato deve refletir a vontade entre as partes. “Acima de regras e acordos, sociedade é sobre pessoas e coloque as suas expectativas no negócio, escrevam tudo”, recomendou.
Momento econômico
Um dos pontos altos do evento foi a palestra de Felipe Tavares, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), sobre o contexto macroeconômico global e nacional.
“Estamos vendendo o almoço para pagar a janta”, disse se referindo ao governo. Ele mostrou que o Brasil tem um baixo crescimento há anos e neste ano ficará abaixo do PIB do mundo. Em 2024, o mundo cresceu 3,3% e o Brasil 3,4%, porém está muito endividado. No entanto, para este ano, o mundo deve crescer 2,8% e o Brasil 2,0%”, disse.
Tavares destacou que a inflação é um problema mundial, sendo resultado do pós-pandemia. No caso do Brasil, a inflação vai fechar em 5,5%, mais alta que a do Chile, Rússia, Índia, e só não perde da Argentina. “Não adianta o PIB crescer se tem esse nível de inflação”, constatou.
A atividade econômica nacional se sustenta por anos em função do desempenho do agronegócio. A baixa produtividade é outra questão apontada pelo economista. “O problema é que as nossas escolhas nos colocaram numa estrutura de país de baixa produtividade. Isso independe do empresário. Temos uma produtividade decrescente há 30 anos”, observou.
Outro ponto abordado foi a elevada carga tributária do país, hoje em 35%, a sétima maior do mundo em relação ao consumo, que continuará bastante elevada mesmo após a reforma tributária, com o IVA e o Imposto Seletivo, será de 28%.
Veículos elétricos
Outra palestra abordou um tema que parte dos revendedores que não vê com bons olhos o ingresso do veículo elétrico no mercado. As vantagens e desvantagens do veículo elétrico foram destacadas por Cesar Urnhani, apresentador do Autoestporte. O painel contou com a participação de Flávio Carneiro Filho, CEO da BR Super Carga, empresa especializada em recarga de veículos elétricos.
Na visão de Urnhani, o veículo elétrico é uma boa solução, mas o sistema elétrico deveria estar mais preparado para receber essa demanda. “Uma coisa é fazer energia elétrica e outra coisa é distribuir energia. Temos um problema com infraestrutura de distribuição”, disse. No entanto, o veículo elétrico foi lançado sem o setor elétrico estar preparado para receber o volume de consumo.
Segundo ele, as montadoras acumulam prejuízos com os veículos elétricos. “Um ônibus elétrico custa três vezes mais do que a combustão”, disse.
Carneiro apontou a dificuldade de ter uma infraestrutura para recarregar o carro, mas que tem se expandido. “Já temos 72 pontos de revarga e alguns são em postos de combustíveis”, comentou.
Ele defendeu que os pontos de recarga vão agregar valor ao posto, pois será necessário aguardar um tempo para abastecer o veículo, podendo buscar consumo em outras áreas do posto, como lojas de conveniência, franquias de alimentação, lavanderias, entre outros.
Ao final do painel, o presidente do Sindicombustíveis Alagoas, James Thorp Neto, destacou que ele se incomoda em ver um carro elétrico usando os pontos de recarga em farmácias, shoppings e outros estabelecimentos. “Não podemos perder a oportunidade, temos as melhores esquinas e pontos comerciais do país. “A mensagem que eu deixo é não podemos perder o protagonismo seja qual for a opção da matriz energética”.
Um tema para avaliar: self-service
O polêmico tema do self-service em postos de combustíveis foi o tema da palestra de Roberto James, fundador do Errejota. O painel abordou um pouco da história dos Estados Unidos com a adoção dos self-service em 1940, sendo considerado um mercado bastante maduro. No entanto, no Brasil, a Lei 9.956/2000 proíbe o sistema self-service.
A discussão sobre o self-service tem sido ventilada por projetos de lei no Congresso Nacional e pelas mudanças de mercado. A dificuldade de encontrar mão de obra também abre oportunidade para discutir essa questão.
“Quando pensa amplamente no mercado é necessário refletir sobre o autoatendimento no Brasil”, disse James. “Eu quero ou não o autoatendimento, eu quero ou não o modelo híbrido?”, questionou.
Segundo o palestrante, o revendedor terá que refletir sobre os riscos da adoção desse sistema. Ele alertou sobre a possibilidade de verticalização pelas distribuidoras e também que o sistema não vai resolver todos os problemas da revenda, quando se pensa em custos fixos. A palestra teve como intuito iniciar a discussão sobre este tema, levando informação e reflexão para que tudo seja avaliado com cautela. “Cabe ao revendedor decidir o que será viável para o seu negócio”, disse.
O mundo mudou
Para encerrar o dia, o publicitário e palestrante Dado Schneider realizou uma palestra bem-humorada sobre a Geração Z e as dificuldades do mercado de trabalho.
Conhecedor profundo dessa geração, por meio da paternidade, ele se tornou o primeiro especialista do país para a geração da faixa etária entre 13 e 28 anos.
De acordo com Schneider, com o aumento da expectativa de vida para mais de 100 anos, essa geração passa por uma adolescência tardia, e permanece na casa dos pais por cerca de 40 anos ou mais. Criamos gente que sai de casa para ter experiências e sem o menor problema, eles voltam”, disse.
Ele comentou que essa geração também não consegue trabalhar por muito tempo no sistema corporativo formal. Eles não querem ter um plano de carreira, não suportam pressão e buscam por experiências, mais do que segurança material. “A geração é radicalmente diferente da nossa. Fomos criados para subir na vida, galgar postos de trabalho e tínhamos a ideia de evolução. Com a Geração Z, vivemos a revolução”, relatou.