12/05/2022
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, foi demitido ontem de maneira inesperada pelo presidente Jair Bolsonaro. No lugar do almirante, foi nomeado Adolfo Sachsida, economista, funcionário de carreira do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea) e assessor especial do ministro da Economia, Paulo Guedes.
A gota d’água para a demissão, segundo relatos colhidos dentro do governo, foi o reajuste do diesel anunciado pela estatal quatro dias após os alertas feitos a Albuquerque pelo presidente em sua “live” semanal nas redes sociais. Também foram decisivos para a demissão embates com a equipe econômica por conta de subsídios e da política de preços da estatal, de acordo com fontes palacianas ouvidas pelo Valor.
A queda de Albuquerque é vista como uma resposta política à alta dos combustíveis. O presidente está preocupado com o impacto eleitoral da inflação de dois dígitos, que vem ganhando grande impulso com as seguidas altas dos combustíveis promovidas pela Petrobras. Bolsonaro tentará a reeleição neste ano e tem como concorrente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas.
Apesar disso, é unânime dentro do governo a opinião de que a troca de ministro terá efeito nulo na política de preços da Petrobras.
O almirante também deixa o posto em meio ao desgaste entre o governo e o Centrão por conta de um projeto bilionário de construção de gasodutos pelo país. Membros da ala política do Executivo, contudo, negam que isso tenha relação com a saída do ministro.
O “Diário Oficial da União (DOU)” de ontem registrou que a exoneração de Albuquerque ocorreu “a pedido”. E, em nota, o Ministério de Minas e Energia informou que a demissão foi de “caráter pessoal” e decidida de “forma consensual” em reunião com o presidente da República, Jair Bolsonaro.
O almirante, no entanto, foi surpreendido, segundo relatos. A decisão também pegou desavisados todos os secretários e assessores diretos do então ministro, que classificaram a iniciativa do chefe do Poder Executivo, num primeiro momento, como “intempestiva”.
Até a véspera, Albuquerque mantinha normalmente a sua agenda de compromissos oficiais e cuidava dos preparativos para a viagem, na próxima sexta-feira, para Washington (EUA), para a 2ª Reunião Ministerial do Fórum de Energia Brasil-Estados Unidos (USBEF). Sua participação no evento, uma iniciativa do ministério com o Departamento de Energia (DOE, na sigla em inglês), lançada em 2019, seria segunda-feira, 16.
O clima de consternação que tomou os auxiliares diretos de Albuquerque é atribuído à impossibilidade de atender às expectativas do presidente em relação ao controle de preços dos combustíveis e dos dividendos da Petrobras.
O aumento do diesel preocupa Bolsonaro também porque, além do impacto em uma inflação já elevada, atinge em cheio os caminhoneiros. A categoria é uma sólida base de apoio do presidente e, além disso, tem o poder de parar o país caso promova uma greve, como ocorreu em 2018 durante a gestão de Michel Temer.
Com poucas chances de uma reversão da política de preços da empresa, dizem fontes palacianas, a queda do ministro serve para dar uma satisfação aos caminhoneiros e passar a impressão de que o governo está se mexendo para encontrar solução para um problema sobre o qual o governo não tem controle: a inflação dos combustíveis.
Na segunda-feira, Albuquerque reuniu-se com o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) no Palácio do Planalto para discutir medidas para mitigar os efeitos do reajuste. Essas medidas estão sob análise.
A demissão não foi tratada entre almirante e Nogueira, responsável pela articulação do governo. Sachsida só esteve no Palácio para tratar de sua indicação ao posto na noite de terça-feira.
Embora seja um técnico de carreira e viesse atuando como um auxiliar direto de Paulo Guedes, Sachsida há meses tem se aproximado de Bolsonaro e de suas pautas. Esteve, por exemplo, nas manifestações de 7 de Setembro em Brasília, nas quais o alvo principal foi o Supremo Tribunal Federal (STF). O episódio gerou atritos entre o Executivo e os demais Poderes.
Um auxiliar direto de Bolsonaro afirma que Albuquerque vinha se desentendendo com a equipe econômica. E que foi o ministro da Economia quem indicou Sachsida para o posto. Procurada, a pasta não se manifestou até o fechamento desta edição.
Ontem pela manhã, Bolsonaro disse a apoiadores no Alvorada que os combustíveis estão caros no mundo todo e o Brasil “foi um dos países que menos subiu preço das coisas” por ocasião da pandemia, sem comentar a troca ministerial
Diante de apoiadoras que estiveram no exterior recentemente, Bolsonaro perguntou o preço dos combustíveis lá fora. Ao ouvir que no Canadá o litro da gasolina custa mais de US$ 2, emendou: “Então está mais de R$ 10 o litro”.
A maneira como Albuquerque, um almirante da reserva, foi demitido – praticamente pelo Diário Oficial e sem nenhuma nota de agradecimento da parte do presidente – também desagradou alguns militares do governo. Entretanto, eles não se dizem surpresos pela maneira de operar de Bolsonaro, que já demitiu de forma humilhante outros auxiliares.
Miliatres como os generais Santos Cruz (Secretaria de Governo), Fernando Azevedo (Defesa), Rêgo Barros (Porta-Voz) e Santa Rosa (Secretaria de Assuntos Estratégicos) também deixaram o governo pela porta dos fundos.
Outro caso notório é do ex-ministro Gustavo Bebianno (Secetaria-Geral), que coordenou a campanha de Bolsonaro e foi demitido poucas semanas após a posse do presidente. Bolsonaro sequer manifestou pesar pela sua morte, em março de 2020.