04/05/2022

Fonte: Valor Econômico 

As declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a Petrobras e a política de preços da empresa, ontem, em ato de apoio à pré-candidatura do petista, em São Paulo, desconsideram a realidade da indústria de petróleo. Disse Lula em uma das falas: “Se os trabalhadores ganham em reais, se a gente compra as coisas em reais, se o petróleo é retirado de 7 mil metros de profundidade em reais, se a refinaria é paga em reais, quero saber por que temos de ter o preço internacionalizado.” Diferentemente do que disse Lula, a moeda de referência da indústria é o dólar.

É assim com todas as commodities negociadas no mercado internacional. E com o petróleo não é diferente. O preço do barril, equipamentos e serviços, quase tudo é em dólar. Empresas grandes, como a Petrobras, em mercados continentais, como o Brasil, têm também uma parcela importante dos gastos em reais. Sobretudo salários dos funcionários e custos administrativos. Mas o grosso das transações se dá em dólar. É o dólar que baliza investimentos e que mede o tamanho da dívida, inclusive quando se olha o balanço em reais.

A política de paridade dos preços domésticos aos internacionais foi instituída no governo Temer depois de a Petrobras viver uma das piores crises de sua história, no governo do PT, que levou a empresa a ter a maior dívida corporativa do mundo. Entre 2011 e 2014, no governo Dilma Rousseff, a Petrobras controlou preços para conter a inflação e, no período, operou com fluxo de caixa livre negativo.

Os preços dos combustíveis são sempre tema delicado no Brasil e, neste ano eleitoral, se tornam tema frequente dos discursos do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula. Situados em polos opostos do espectro ideológico, os dois se aproximam nas críticas à Petrobras. Ontem Lula acusou Bolsonaro de promover o “desmonte” da Petrobras, destinando boa parte do lucro ao pagamento de dividendos aos acionistas. Citou minoritários em Nova York, mas se esqueceu de dizer que é a União que recebe a maior parte do dinheiro. No exercício de 2021, a empresa propôs o pagamento de R$ 101,3 bilhões em dividendos aos acionistas. A União é um dos que mais se beneficiam dos dividendos da Petrobras e o governo pode, se quiser, usar esses recursos para subsidiar os combustíveis. Interferir nos preços, como faz Bolsonaro e como promete Lula, destrói valor da companhia. “Se o governante de plantão não está satisfeito, melhor privatizar ou fechar o capital da empresa”, diz fonte da indústria.

Published On: 4 de maio de 2022

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