12/04/2022
Fonte: O Tempo
O diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, afirmou ontem esperar que a conta de luz dos brasileiros passe todo o ano de 2022 sem taxas extras para bancar usinas térmicas. Ele corroborou o posicionamento do Ministério de Minas e Energia (MME), que previu a adoção da bandeira verde para todo o ano, a partir deste sábado (16).
Com a medida, o consumidor vai deixar de pagar pela taxa de escassez hídrica, cobrada há oito meses para custear os gastos extras com acionamento de termelétricas durante a estiagem de 2021. Mas após uma das maiores crises de escassez hídrica já sofridas pelo país, nossos reservatórios estão cheios o suficiente para não haver cobranças tarifárias por nove meses?
Especialistas acreditam que o atual cenário indica que, sim, o Brasil está mais confortável para a produção energética, em 2022. De acordo com Roberto Brandão, pesquisador sênior do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a situação não está folgada apenas porque os reservatórios ficaram bem cheios, mas também porque o país vem atravessando uma crise econômica há mais de seis anos – e, por isso, não há demanda por mais produção de energia.
“Mesmo no ano passado, em meio à crise hídrica, tínhamos um excesso de capacidade. O consumo não vem tendo crescimento expressivo desde 2015 e, por outro lado, nesse período houve um aumento da capacidade instalada, especialmente termelétrica, eólica e solar. O risco de termos problemas no segundo semestre é baixo”, afirma o especialista.
Energia térmica já contratada
Ter reservatórios cheios não significa que a energia térmica não será produzida no país em 2022. O MME afirma que já contratou energia de termelétricas que devem entrar em operação muito em breve. Esses contratos já firmados preveem um gasto de R$ 39 bilhões pelos próximos cinco anos pelo sistema.
Durante coletiva, Ciocchi argumentou que não será possível quebrar os contratos firmados após leilão em 2021, mesmo que os reservatórios estejam cheios. “Imagine se a gente quebra um contrato desse agora? Qual a confiança que os empreendedores, o mercado em geral, têm no setor elétrico?”, disse.
Segundo Roberto Brandão, esse custo com a energia térmica já está embutido nos cálculos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para definir as bandeiras tarifárias. “Bandeira verde não quer dizer zero geração térmica. A Aneel faz uma conta considerando o que pode ser produzido em uma situação hídrica favorável. Quando a bandeira é amarela, é porque se prevê uma quantidade maior de acionamento de termelétricas, e a vermelha é porque há muita margem para despacho térmico”, explica.
Cálculo feito com diferentes variáveis
A capacidade dos reservatórios foi restabelecida durante o chuvoso verão em todo o subsistema Sudeste/ Centro-Oeste, chegando a 65,14% no total. Somente em Furnas, principal hidrelétrica da região Sul, a capacidade do reservatório está acima de 83% – em agosto do ano passado, o nível era de 13,72%.
A situação não é tão confortável na região Sul, onde está Itaipu, com média de 51,68%, mas o sistema é interligado nacionalmente e os estados sulistas não devem ser prejudicados, mesmo que as chuvas voltem a ficar escassas no Paraná. De acordo com o ONS, esse é o melhor nível dos reservatórios desde 2012.
Manuel Fiúza, professor de Engenharia Elétrica da Fumec, explica que a tomada de decisão da Aneel sobre bandeiras tarifárias não leva em conta apenas o retrato do nível dos reservatórios em um determinado momento, mas também cálculos complexos sobre o volume de água em curto, médio e longo prazo.
“Os técnicos fazem estudos sobre um cenário de até dez anos à frente considerando diferentes variáveis, como metereologia, previsão de consumo e o crescimento da economia. E esse planejamento é revisto de seis em seis meses”, afirma o professor, lembrando que as médias históricas de chuvas em cada região também são consideradas nas previsões.
O professor diz ainda que é preciso levar em conta o peso da energia elétrica na inflação do país. “A energia é isumo básico para tudo. A bandeira tarifária onera todos os consumidores, as empresas e toda a economia do país”.