Em apenas três anos, o Pix caiu no gosto do brasileiro e já se tornou a forma de pagamento mais utilizada no país. A modalidade, que surgiu como uma alternativa ao TED e ao DOC por permitir pagamentos à vista em qualquer horário ou dia da semana, vem tendo as funcionalidades ampliadas, podendo, inclusive, se tornar um concorrente do cartão de crédito em breve.

Faz parte dos planos do Banco Central lançar o Pix Parcelado, que também pode se chamar Garantido ou Crédito. Embora o nome não esteja definido, o produto consta na agenda evolutiva do Pix, ainda que sem data certa para lançamento.

Com objetivo de acelerar a inclusão financeira, o presidente do BC, Roberto Campos Netto, já chegou a afirmar que espera que, no futuro, não será preciso ter cartão de crédito e “poderá fazer tudo no Pix”. Enquanto a solução ainda não é implementada, bancos e fintechs aproveitam a lacuna para oferecer mais um tipo de crédito aos consumidores.

O modelo é semelhante a um parcelamento com juros no cartão de crédito. Em alguns casos é vinculado ao limite do próprio cartão e, em outros, relacionado a um tipo de empréstimo que o banco ofereça.

Na prática, funciona assim: o lojista ou a pessoa física recebe o pagamento na hora, e é o correntista quem arca com os juros do parcelamento. Quanto mais parcelas, maiores costumam ser as taxas aplicadas.

No Nubank, por exemplo, o cliente precisa acessar a “Área Pix” e simular uma transferência comum. Antes de finalizar, pode escolher usar o saldo em conta ou o cartão de crédito. Nesse último caso, é necessário ter limite disponível. O banco digital afirma que a taxa é definida a partir de uma política de crédito interna que varia de cliente para cliente.

No entanto, uma simulação feita pela reportagem mostrou que um Pix de R$ 50 parcelado em 12 vezes chega a ter um acréscimo de 30%. Em apenas uma parcela, a taxa cobrada foi de 4,92%.

Luigi Iervolino, sócio da consultoria Bip, explica que, nesse modelo, quem assume o risco de crédito é o banco, em vez do vendedor. Outra vantagem para o lojista, segundo ele, é receber na hora, ao passo que, no cartão de crédito, ele pode demorar até 30 dias para receber o valor.

Enquanto a solução não é lançada pelo Banco Central, Iervolino opina que o consumidor não tem muitos benefícios, já que ele ainda depende da aprovação do crédito pela instituição e pode estar sujeito a taxas elevadas:

— Até existem algumas fintechs que parcelam em até 90 vezes sem juros, mas tudo depende da liberação de crédito para essa pessoa. Não muda muita coisa.

O Itaú disponibiliza em seu aplicativo a opção de realizar uma transferência Pix e pagar depois. Para isso, é necessário escolher a opção ‘Pague Parcelado’ e, depois, clicar em quantas vezes deseja parcelar. A oferta do parcelamento, segundo a instituição, depende de uma análise de crédito.

O Bradesco informou que oferece uma operação de crédito para clientes que precisem fazer pagamentos ou transferências via Pix sem saldo em conta. “O banco avalia automaticamente a transação e disponibiliza um produto de crédito no valor adequado para a conclusão do Pix, podendo aumentar o limite de conta ou até mesmo permitir o parcelamento dos valores da operação”.

Esse crédito, no entanto, não é solicitado diretamente na aba do Pix do aplicativo, mas na seção “empréstimos” e “crédito parcelado”.

Ivan Habe, sócio líder de pagamentos da EY, observa que os produtos de ‘Pix Parcelado’ existentes são, em geral, atrelados a um crédito pessoal, uma vez que os bancos conhecem o perfil do correntista e, dessa forma, podem fazem ofertas personalizadas, diminuindo o risco de inadimplência.

No entanto, alerta que o uso não deve ser indiscriminado porque, além das taxas embutidas nas parcelas, o crédito pode ficar ainda mais caro se não for pago em dia:

— Esse tipo de serviço se assemelha com o empréstimo pessoal. Vale apenas reforçar que não são apenas os juros do parcelamento, mas também tem que considerar que há um valor a ser cobrado pela inadimplência e/ou não pagamento da parcela na data do vencimento.

Com mais de 163 mil contratações desde dezembro do ano passado, o Banco do Brasil permite parcelamentos de Pix a partir de R$ 100. O cliente interessado deve acessar o BB Parcela Pix no próprio ambiente do Pix para saber as taxas de juros, de acordo com seu perfil.

Já o Santander permite parcelar, mediante juros, o valor do Pix em até 24 vezes, com o pagamento da primeira parcela em até 59 dias. O valor mínimo de contratação é de R$ 100, e as parcelas precisam ser de pelo menos R$ 5.

O pagamento parcelado via Pix também está disponível para clientes da conta digital do Banco Pan que possuem valores de empréstimos pré-aprovados. A contratação é válida para transações a partir de R$ 100, com possibilidade de pagamento em até 24 parcelas.

“Para contratar o produto, basta acessar o aplicativo do Banco Pan, entrar na opção “Pix”, em seguida “Pagar parcelado”, ou iniciar uma transferência PIX por QR Code ou Copia e Cola. Após a confirmação, o cliente recebe, no próprio aplicativo, o comprovante de realização do Pix e da contratação do crédito. As parcelas serão debitadas da conta do Banco Pan, mensalmente, já com o valor da taxa de juros aplicado”, orientou o banco.

O educador financeiro Adenias Filho recomenda cautela ao usar a nova modalidade de crédito. Segundo ele, sem controle do próprio orçamento, as dívidas podem virar uma bola de neve.

— Qualquer nova modalidade que venha a ser implementada, se for para consumo, a pessoa tem que pensar se não valeria a pena poupar dinheiro para depois consumir e pagar mais barato — aconselha. — Tomar empréstimo pra consumo não é a melhor opção. É preciso ter cuidado com comprometimento da renda. E, hoje em dia, até os camelôs têm maquininha de cartão de crédito, que pode mais vantajoso a depender das taxas.

Autor/Veículo: O Globo

Published On: 8 de setembro de 2023

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