Talvez tenha sido estratégia de vendedor para valorizar seu produto mas, além do preço oferecido, uma reclamação comum entre os grandes acionistas da Vibra em relação à proposta de fusão apresentada pela Eneva foi a existência de ativos mais poluentes e a possibilidade de expansão desse portfólio, a partir da incorporação de termoelétricas do BTG Pactual no pacote. A Vibra recusou o negócio, mas deixou as portas abertas caso haja uma eventual melhoria da proposta. Vendido com a ideia da criação de uma grande empresa voltada à transição energética, com prioridade especial em energias renováveis e limpas, o negócio iria, com as térmicas da própria Eneva e a possível entrada das térmicas do BTG no acordo, na contramão desse movimento.

Desafio é unir interesses difusos

“Não temos interesse em comprar óleo ou carvão e nem térmicas que queimam óleo”, afirmou um acionista relevante da Vibra. “A Vibra vai em direção contrária e não tem interesse em dar um passo para trás.” As partes tentavam levar “veganos e churrasqueiros para almoçar no mesmo restaurante”, disse outro.

Usinas a carvão já eram empecilho

Na base de ativos atual da Eneva, as principais pedras no sapato são as termoelétricas de Itaqui (MA) e Pecém (CE), a carvão. A operação das duas já tinha sido motivo de paralisação de conversas anteriores sobre fusão, há mais de um ano, quando representantes das empresas chegaram a avaliar uma potencial transação.

• PERFIL. No caso das térmicas do BTG, duas das quatro operam a óleo combustível e as outras, a gás. Pela oferta, a inclusão das térmicas do BTG não seria mandatória para a fusão. Ao contrário, a operação seria feita posteriormente, caso houvesse interesse das companhias. O BTG Pactual é o maior acionista da Eneva, com 22%.

• BÔNUS. De acordo com fontes, a proposta entrou no pacote porque as térmicas são fortes geradoras de caixa e pagadoras de dividendos, e têm baixo endividamento. Seria uma maneira de deixar o negócio mais atraente e com menos riscos à operação, e serviriam para evitar reclamações em relação a conflito de interesse do BTG.

• SAÍDA. Outra fonte envolvida nas discussões afirmou que, no caso das térmicas, um possível acordo deveria envolver o tratamento a ser dado para esses ativos no futuro, como um compromisso de venda ou descomissionamento. Procurado, o BTG não se pronunciou.

• PREÇO. Apesar das térmicas, o maior entrave ao negócio foi o preço. “Nada será feito se não trouxer valor para Vibra”, diz um investidor relevante. Mas acrescentou que “muitos acionistas veem beleza na combinação por conta das potenciais sinergias em renováveis e do enorme crescimento previsto desse mercado”.

Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo (Coluna do Broadcast)

Published On: 30 de novembro de 2023

Últimas Noticias

Compartilhe este conteúdo!