Aquecido pela demanda da Petrobras no pré-sal e prejudicado por um hiato de quase dez anos na formação coordenada de mão de obra, o setor de óleo e gás offshore (em alto-mar) brasileiro tem um déficit de pelo menos 5,1 mil técnicos de nível médio hoje. O levantamento é da Associação Brasileira das Empresas de Bens e Serviços de Petróleo (Abespetro) em 30 empresas, entre fornecedores e petroleiras.

Segundo o presidente executivo da entidade, Telmo Ghiorzi, o número traduz uma “demanda mínima” do setor, visto que o universo de empresas é maior do que o pesquisado e, também, não entraram na conta a falta de profissionais de nível superior nem daqueles que exercem as chamadas atividades meio e administrativas em terra.

“Na verdade, o déficit do momento é bem maior do que este e pode subir consideravelmente já em 2026 e 2027, com novos projetos, por exemplo, na Margem Equatorial”, diz Ghiorzi, considerando um cenário de liberação do Ibama para que a Petrobras atue na exploração de petróleo no litoral do Amapá. Ghiorzi lista outros vetores de demanda por mão de obra no setor, como processos de revitalização de campos maduros por petroleiras independentes.

Foram coletadas informações sobre a demanda de 145 ocupações de nível técnico, entre as quais se destacam as dez profissões consideradas “mais críticas”, que totalizam 2,1 mil vagas ou 42% dos 5,1 mil profissionais a serem contratados. As dez ocupações são, em ordem de importância: soldador, caldeireiro, mecânico, pintor industrial, marinheiro de convés, ajudante, eletricista marítimo, operador de guindaste, operador de produção e técnico em segurança do trabalho.

Solução

Como saída para esse gargalo de mão de obra, a entidade aponta a retomada do Programa de Recursos Humanos da Agência Nacional do Petróleo (PRH-ANP) para nível médio, prestes a sair do papel sob a supervisão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Para Ghiorzi, a volta do programa é um passo importante para a resolução do problema. A formação de um profissional técnico especializado leva de 1 a 2 anos. Por isso, ele argumenta que a escassez de profissionais pode ter redução relevante a médio prazo.

Vai nesse sentido uma das iniciativas de modernização do PRH: a criação de um “Comitê da Indústria” com o papel de apoiar o alinhamento da formação de pessoal do programa às demandas reais do mercado. A Abespetro integra o comitê.

Hiato de formação

O vice-presidente da Abespetro, Breno Medeiros, diz que, para além da maior demanda por profissionais, ligada à profusão de novos projetos, houve uma interrupção na formação, com a paralisação do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp) em 2019.

O programa, que tinha comitê gestor ligado ao governo, mas era operacionalizado pela Petrobras, surgiu em 2004 e substituiu o PRH da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), mas também parou em 2016. “De lá para cá, foram quase dez anos sem uma formação coordenada de mão de obra especializada”, diz Medeiros.

A Abespetro aponta a desidratação do programa como consequência de cinco anos sem rodadas de licitações da ANP, entre 2008 e 2013, seguida da queda abrupta dos preços internacionais do petróleo em 2014. Colaborou para o cenário a operação Lava-jato, que travou investimentos do governo.

Cenário

A pesquisa da Abespetro mostra que a empregabilidade no setor de óleo e gás brasileiro vem se recuperando nos últimos anos. Em 2023, eram 616 mil empregados e, até 2029, o contingente pode chegar a 911 mil pessoas trabalhando no setor, se confirmadas iniciativas como a exploração da Margem Equatorial, diz a entidade.

Em 2024, mostra a pesquisa, o salário médio de admissão real para ocupações de nível técnico para o setor de óleo e gás foi de R$ 4.617, com valores variando entre R$ 1.988,00 (plataformista) e R$ 12.462,00 (imediato), segundo dados fornecidos pela gerência de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

Os salários das cinco ocupações mais críticas, diz a Abespetro, variam entre R$ 2.490,00 (Marinheiro de Convés) e R$ 3.429,00 (Mecânico). Entre 2022 e 2024, a média salarial do setor de P&G naval registrou aumento de 12%, o que pode sinalizar aquecimento do mercado de trabalho, em especial para o nível técnico no setor de óleo e gás.

Autor/Veículo: O Estado de São Paulo
Published On: 17 de abril de 2025

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