13/04/2022
Fonte: Valor Econômico

O aumento dos preços ao consumidor nos EUA superou 8% em 12 meses até março, maior taxa desde 1981, com a alta nos custos da energia e dos alimentos, mantendo a pressão sobre o Federal Reserve (Fed, o BC americano) para que adote medidas agressivas para enfrentar a inflação.

Também a Alemanha reportou ontem uma aceleração da inflação ao consumidor para 7,3% ao ano em março – maior taxa desde 1981, reforçando os sinais de pressão global nos preços.

Economistas alertam que a pressão inflacionária na Alemanha permanecerá intensa e a taxa continuará a subir nos próximos meses. “A inflação de energia e a pressão de preços estão subindo mesmo com a atividade econômica sob o risco de contração”, disse Andrew Kenningham, economista-chefe para a Europa da consultoria Capital Economics.

Nos EUA, o índice de preços ao consumidor (IPC) subiu 8,5% em março ante marco de 2021, ficando um pouco acima das expectativas, segundo informou ontem o Departamento do Trabalho. A alta no mês foi de 1,2%, maior salto desde setembro de 2005 e bem acima da taxa de 0,8% de fevereiro.

Excluindo itens voláteis como energia e alimentos, o “núcleo” do IPC avançou 0,3% em março. Este foi o menor aumento desde setembro, mais ainda assim se traduziu em uma alta anual de 6,5%.

Lael Brainard, diretora do Fed, alertou para os riscos de “alta” da inflação, citando a invasão da Ucrânia pela Rússia – que alimenta a alta dos custos da energia e dos alimentos – e os novos “lockdowns” na China contra a covid-19, que podem agravar os problemas nas cadeias de suprimentos.

“A economia vem carregando agora uma série desses riscos de choques inflacionários causados por acontecimentos externos”, disse Brainard em um evento promovido pelo “Wall Street Journal”. “Estamos vendo muita resiliência, mas também uma pressão inflacionária muito alta.”

Essa foi a primeira leitura da inflação que incluiu um mês inteiro do impacto da guerra na Ucrânia. A Rússia é um dos maiores exportadores mundiais de energia e ela e a Ucrânia são grandes fornecedores de trigo e outros grãos.

A moderação no “núcleo” do IPC desencadeou uma alta dos títulos do Tesouro americano e nos mercados de financiamento “overnight”, com os operadores rebaixando suas apostas para o ritmo e intensidade do aperto monetário pelo Fed neste ano.

Mas os mercados ainda estão precificando o aumento da taxa referencial do Fed para 2,45% até o fim de 2022, inferior à de 2,59% estimada anteriormente no dia, mas bem acima da atual faixa de variação da taxa, entre 0,25% e 0,50%.

Na segunda-feira o governo Joer Biden responsabilizou a guerra pela disparada dos preços. A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que a medida do IPC seria “extraordinariamente elevada devido à alta dos preços de Putin”.

Mas o senador democrata Joe Manchin discordou ontem: “O Fed e o governo não agiram com a rapidez suficiente, e os dados de hoje são um retrato das consequências que estão sendo sentidas em todo o país”. Ele acrescentou ter sido “um desserviço à população americana agir como se a inflação fosse um fenômeno novo”.

Manchin, que barrou os planos de gastos sociais abrangentes de Biden sob a alegação de que seriam inflacionários, disse que pôr os preços “sob controle exigirá medidas mais agressivas” da parte do Fed, bem como uma mudança da política energética no Congresso.

“Todo mundo está preocupado com a inflação”, disse Vincent Reinhart, ex-membro-sênior da equipe do Fed e atual economista-chefe do Mellon. “Isso vem em primeiro lugar nas pesquisas.”

Os números enfatizaram o efeito dos preços das commodities, já que um salto no da gasolina foi responsável por mais da metade do aumento geral do IPC de março. Nos últimos 12 meses, os preços nos postos de combustível subiram 48%, o que inclui um aumento de 18,3% entre março e fevereiro.

Fora do setor de energia, o aumento dos preços dos serviços essenciais se acelerou em março, com uma alta de 0,6% no mês, ou 4,7% ao ano. Esse foi o maior salto mensal desde agosto de 1992.

Mas houve sinais de desaceleração nos aumentos em outras áreas. Os preços dos carros usados, que dispararam desde que a pandemia do coronavírus afastou muitos americanos do transporte público, caíram 3,8% em março. O custo de compra de um veículo novo subiu 0,2% em relação ao mês anterior, um aumento menor do que o ganho registrado em fevereiro.

Os temores de que a inflação fique mais arraigada na maior economia do mundo levaram o Fed a adotar nas últimas semanas uma abordagem mais agressiva quanto ao aperto da política monetária.

Após o dado do IPC de março dos EUA, os juros dos bônus de 10 anos do Tesouro americano caíram 0,06 ponto percentual, para 2,72%. No mercado de ações, o índice S&P 500 chegou a subir, mas depois recuou e fechou em baixa de 0,3% em uma sessão volátil. (Com agências internacionais)

Published On: 13 de abril de 2022

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